segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Caça e Caçador


"Seo Lobo, se o senhor não sabe, tem que usar capacete,
 e a garupa também, senão o guarda multa!"
Pensando na história da Chapeuzinho Vermelho, percebemos a "injustiça" que o autor cometeu com o Lobo Mau, a começar por se referir à ele dessa forma, tachando o animal como o vilão da história, sem enxergar o seu lado. E na mesma história, o Caçador foi promovido a herói, por estragar a farra do Lobo. Se esse autor estivesse no meio da floresta, com fome, na condição do lobo, com certeza não se sentiria vilão por matar um coelho ou um cervo para comer, da mesma forma que o caçador faria. No transito acontece algo parecido, quando nos colocamos na condição de caça e de caçador ,ao mesmo tempo ou em tempos diferentes. Muitos motoristas reclamam quando são multados pelos guardas de transito, dizendo-se injustiçados, pois o guarda o persegue, não tem bom censo, inventou a multa e outras coisas que justificam seus atos. Esse mesmo motorista passa a ser pedestre quando desembarca de seu veículo, e reclama dos outros motoristas, que não dão a vez ao pedestre, fazem conversão sem usar a seta, avançam o sinal vermelho, etc. Quando volta ao veículo, continua reclamando que o pedestre não respeita nada nem ninguém, pois não pode ser multado, e não toma cuidado, atravessa fora da faixa, invade o espaço dos veículos e outros abusos. O guarda, que "persegue" os motoristas, quando tira a farda e passa a ser cidadão comum, na condição de pedestre ou conduzindo seu veículo particular, está sujeito à multa ou acidentes de transito, como qualquer um de nós. Ele passa da condição de "caçador de infratores" à "presa dos guardas e outros motoristas", mas mesmo como fiscalizador do transito, pode cometer erros, a serviço ou não; se a serviço, as consequências podem ser mais graves ainda, pois tem que dar exemplo e as punições não se limitam às que estão previstas no código de transito; podem ser maiores e ameaçar seu emprego. Ninguém gosta de perder o emprego, principalmente quando é por um erro que atinge seu prestígio, e com a popularização dos celulares com câmeras e as redes sociais, ficar famoso do dia pra noite é muito fácil. Isso é bom ou ruim? Para quem anda na linha, acho que é bom, pois ajuda a tirar de circulação os maus exemplos; por outro lado, muitos podem ser injustiçados, pois não sabemos o contexto da imagem, em que condições que o erro foi cometido. Existem motoristas infratores e motoristas que estão na condição de infratores; os primeiros procuram se dar bem sempre, não respeitando a sinalização e as regras de circulação; os outros cometem infrações por desconhecer o código de transito e por achar que não estão prejudicando ninguém. Às vezes o cidadão queixa-se de ser multado por estar numa situação de emergência, que força a infração, mas o guarda passa e multa. Talvez para o guarda, o cidadão que estacionou em local proibido pode estar apenas comprando pão, ou pode estar socorrendo alguém que passou mal, difícil saber, mas para a lei não há meio termo, é infração ou não. Bom quando dá para localizar o condutor e esclarecer o ocorrido antes de se emitir o auto, evita grandes transtornos para ambas as partes. Se o Caçador tivesse encontrado o Lobo antes de ele comer a vovó, poderia ter aconselhado ele à procurar um restaurante por quilo, poderia até dar algumas moedas ao Lobo, para que pudesse saciar sua fome de outra maneira. Mas, se o Lobo estava acostumado à uma dieta de vovozinhas e netinhas, mais cedo ou mais tarde ele seria enquadrado pela mira do Caçador.