quarta-feira, 23 de maio de 2012

Meu Amigo Charlie

"Meu filho, por que você não compra um fusquinha, é um carrinho tão bonitinho..." Confesso que me soou um pouco estranho a sugestão de minha mãe, após ter vendido meu monza, que era um carro confortável e de desempenho satisfatório. O único fusca que dirigi até então, era um fusquinha amarelo, da bandeirantes, que tive quando era criança, e sair de um monza para um fusca era uma ideia que não me agradava nem um pouco. Como era um tempo de "vacas magras" e precisava de um carro para sair com a família, mas que fosse de baixo investimento, manutenção barata e simples, e que pudesse vender logo, para comprar um melhor, o fusca me pareceu a opção mais racional, "mas só por pouco tempo", pensei.
O Charlie, quando o comprei, ainda sem saber das  "monstruosidades"
que os "mexânicos" tinham feito com ele, pobrezinho...
O Charlie-Whiskey-Echo, ou simplesmente Charlie, para os amigos,  pertencia a um ex-patrão, que me fez uma proposta tentadora, para pagar em "suaves prestações" e que parecia estar em bom estado, oque descobri depois ser um lamentável engano. Apesar de sua ótima aparência, devido à pintura e estofamentos novos, o carro tinha recebido uma "maquiada", só para passar pra frente, e pouco tempo depois estava estourando ferrugem por todas as partes. Tentei me livrar do problema, pois sabia que se fosse arrumar, teria que "comprá-lo" novamente, mas tem coisas que não adianta pensar só no bolso; tem o lado afetivo, também. Tinha vontade de restaurar um veículo antigo há muito tempo, de preferência um opala, mas o fusca se mostrou melhor opção, novamente, e decidi ficar com o Charlie, para eu mesmo trabalhar na sua revitalização. Não gosto de chamar de restauração, porque ao meu ver, isso é coisa para quem pretende um veículo 100% original, digno de placa preta, oque não é meu caso, pois quero um carro especial, com detalhes que o diferencie dos demais, e novamente o fusca é o ideal para isso, pois ele é como as Harley-Davidson, que nunca são iguais, por causa da customização que seus donos fazem nelas. Acho que é isso: um fusca customizado, com partes de diversos modelos e um toque pessoal, para dar personalidade ao Charlie. Você pode ter uma Ferrari, mas seu vizinho pode comprar uma idêntica; já um fusca, duvido que encontre outro igual...
Mês que vem o Charlie será internado, para fazer a funilaria e pintura, que consiste na parte mais complexa e demorada da reforma. Ainda não sei bem oque será feito, mas pretendo acompanhar todo o processo, fazendo exatamente aquilo que vier na cabeça. Não tenho ideia de valores nem de prazo, só sei que a paciência para ficar sem ele na garagem vai ter que ser enorme, mas essa separação momentânea se faz necessária, para que ele possa continuar por muito tempo sendo esse companheiro de aventuras e amigo fiel que mostrou ser todos esses anos.

domingo, 6 de maio de 2012

Coração de Soldado

Os Cavaleiros Templários, monges soldados 
que combatiam para defender o povo. Um dos
maiores exemplos de servidão já vistos, mas que 
não foi bem compreendido.
Antes que me perguntem: não, eu não servi no exército, mas estive bem próximo de me alistar como voluntário. Só não o fiz por ser filho único e isso é fator determinante nas minhas decisões. Mas meu coração sempre vai pertencer a vida servil, pois a vontade de fazer parte de algo grande e importante para toda a sociedade, mesmo que seja na vida civil, é muito forte, que faz parte de mim. A admiração pelos militares e religiosos é uma coisa que sempre enfatizo, por eles se doarem totalmente à causa, sem pensar nas consequências nem nas recompensas. Um soldado, assim como um padre ou monge, precisa esquecer suas vontades e anseios pessoais e viver para a missão que se dispôs a cumprir, sem olhar para trás e sem esperar nada em troca, nem mesmo o reconhecimento daqueles aos quais serve. Sua recompensa é fazer aquilo que seu coração manda, obedecendo ordens e cumprindo oque seus superiores determinam, mesmo que muitas vezes não entenda bem os propósitos disso. Cumprir ordens talvez seja tão difícil quanto dá-las, pois fazemos coisas sem entender o porquê de fazê-las e somos questionados sem ter respostas precisas; só sabemos que temos que fazê-las. A meu ver, isso não é alienação e muito menos manipulação; é apenas dever, para o qual se dispõem a cumprir e da melhor forma possível. Um pedreiro não precisa ser formado em engenharia civil para levantar uma parede; tem que saber assentar tijolos. Já um engenheiro pode até saber levantar paredes, mas se o fizer, quem é que comanda a obra? Todos somos importantes, não interessa em qual parte da pirâmide estamos: na base ou no topo. Comandantes e comandados tem que saber seu valor e suas responsabilidades, para que a missão seja cumprida. Esse sentimento de dever e responsabilidade é oque falta na nossa sociedade atual, pois nossos jovens não querem aceitar ordens e nem assumir responsabilidades. Não sou à favor do serviço militar obrigatório, mas admito que seria a salvação para muitos. Vejo os veteranos expedicionários que voltaram da Itália e fico imaginando quantos "rebeldes sem causa" voltaram de lá como heróis de guerra e quantos ficaram por lá, na tentativa de cumprir seu dever. Aposto que muitos nem ligavam para a pátria ou para o ideal de liberdade, mas tinham sobre si a responsabilidade de manter vivo o companheiro de trincheira; o irmão que combatia ao seu lado. Se não fazemos pela causa, fazemos pelo irmão que acredita nela. Na nossa guerra diária, nas ruas, no trânsito, no trabalho, em casa; temos que cumprir o dever, por aqueles que estão ao nosso lado, acreditando em nós. Não podemos fingir que "não é comigo" e deixar simplesmente "o barco correr". Temos que pensar na coletividade, no bem maior para todos. Vivemos em sociedade justamente por isso, porque não poderíamos viver sozinhos e fazer tudo sozinhos. Não somos auto-suficientes e nem tão pequenos que não possamos fazer a diferença. Faça sua parte, sem pensar só em si mesmo e no que vai receber em troca. Um pouco de doação vai lhe trazer um sentimento incrível, que só você mesmo pode provocar, pois ele vem de dentro para fora, do verdadeiro coração de soldado.