terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Estado deve ser Laico

É incrível que esse monge ignorante disse e pregou. 
Deu cartas seladas, que declaravam que até os pecados
que um homem tencionava cometer seriam perdoados. 
O papa, dizia ele, tem mais poder do que todos os Apóstolos,
todos os anjos e santos, mais até que a própria Virgem Maria;
pois estes eram todos subordinados a Cristo, mas o papa era 
igual a Cristo.” (Myconius, frade franciscano, Alemanha, 1517).
Nas últimas eleições vimos uma corrida religiosa pelo poder. Alguns candidatos usaram sua crença para angariar votos, sabendo que as comunidades religiosas são unidas e cooperantes. Mas, será que está certo usar uma escolha pessoal para promover a subida ao poder? Será que a intenção é só ajudar os "irmãos" de fé? E Jesus, aprovaria isso? Essa busca pelo poder me faz pensar se Cristo teria atendido os anseios daqueles que queriam ver o fim do domínio de Roma sobre a palestina. Com seu prestígio e influência, com certeza teria liderado um exército muito grande, e somado aos zelotes, criaria grandes problemas para César. Mas ele não estava lá para começar uma "guerra santa", com grande derramamento de sangue. Cristo teria declarado que seu Reino não era desse mundo, e isso criou grande desconforto entre os revolucionários. Também não se opôs ao pagamento dos tributos, que tanto oprimia o seu povo. Será que Cristo era indiferente aos problemas sociais e políticos da época? Creio que não, mas sabia que não deveria interferir em algo que pertence a essa "nossa realidade". Sua missão era espiritual, e só interferiu naquilo que seria essencial à anunciação da sua mensagem. Se desse o poder aos zelotes, estaria simplesmente colaborando para a criação de um regime totalitário, baseado em uma doutrina religiosa. Vemos que no decorrer na história, essa concentração de poder nas mãos de grupos religiosos era muito comum, descadeando disputas de poder baseadas na fé daqueles que acreditavam, no fundo de seus corações, que estavam fazendo a "vontade de Deus", mas serviam como massa de manobra para uns poucos inescrupulosos. Hoje isso continua a acontecer, a busca desenfreada do poder, usando a fé do povo como trampolim político. Mas isso não quer dizer que um homem público deva negar sua fé, mas sim mantê-la na sua vida pessoal, como fortalecimento interno, e não como chamariz de votos para sua campanha eleitoral. Se for eleito, sofrerá pressões por parte de comunidades religiosas, que exigirão uma postura favorável a certos costumes, e que podem infringir os direitos de outros grupos, que também são cidadãos cumpridores de seus deveres cívicos. A constituição nos assegura a liberdade religiosa, mas devemos ter a consciência de que nossas crenças não devem ferir os direitos do próximo. O Estado já favorece demais as instituições religiosas, herança do tempo que se fundia com a igreja e um estava à mercê dos caprichos do outro. Durante séculos o estado sofreu a influência papal, e hoje estamos sujeitos a ter governantes obedecendo a bispos e pastores. Por isso digo que votar deve ser um ato cívico, sem influências de doutrinas religiosas, que podem estar mascarando interesses pessoais de um determinado candidato ou grupo político. Devemos procurar manter a democracia e não deixar que se instale uma teocracia, ditando a vida das pessoas e impondo costumes religiosos, como acontecia na Idade Média, porém hoje sob a forma de siglas partidárias, mas com o velho discurso de estarem protegendo a família e os bons costumes.