domingo, 18 de março de 2012

Religião X Doutrina

Falar de religião é algo complexo e que geralmente acaba refletindo a opinião pessoal. Pois bem, não vou tentar me omitir de dar minha opinião, pois é esse o propósito desse blog e por isso ele leva meu nome. Resolvi abordar esse tema depois de ver uma discussão no facebook, na qual um participante dizia que a religião escraviza; já outro disse que a doutrina escraviza. Mas, qual a diferença entre doutrina e religião?
 Religião é um conjunto de crenças, que reúne indivíduos simpatizantes, para eventos de culto, comemorações e participação na sociedade. A religião é o elo entre o crente (aquele que crê) e o divino; também torna os membros mais unidos em torno do mesmo propósito. Já a doutrina é o conjunto de ensinamentos e regras que é passado aos indivíduos de uma instituição. A doutrina não é só religiosa, podendo ser militar, política, filosófica, etc.; mas é na religião que ela acaba sendo mais poderosa, pois têm a função de disciplinar ( não é bem esse o termo) os fiéis e fazê-los obedecer aos mandamentos da instituição religiosa. A igreja usa o conceito de pecado para definir oque é lícito ou não fazer; o pecado está para a igreja assim como as leis estão para a sociedade. Mas é meio difícil dizer oque é pecado, assim como é perigoso dizer que ele não existe, como pregam alguns. O que é moralmente condenável na nossa sociedade pode não ser em outras, e cada pessoa tem sua própria opinião sobre oque é decente fazer de sua vida. Coisas que até pouco tempo atrás escandalizavam a sociedade, agora são consideradas normais, consequências da vida moderna. Lembro que quando era criança, não se comia carne na quaresma, porque era pecado, mas hoje são pouquíssimas pessoas que mantêm esse costume e até os padres já não condenam mais a desobediência dos fiéis. E a doutrina não é exclusiva na igreja católica, outras igrejas de diversas denominações costumam doutrinar os fiéis para que esses sigam à risca as regras e não questionem sua legitimidade; e isso é um dos fatores determinantes da doutrina, pois até os militares a usam para garantir que suas ordens sejam seguidas, pois questionar significa não acatar e resulta em punição ou exclusão. Se você questiona os ensinamentos de uma doutrina religiosa, você está indo contra o propósito "de Deus" e então não é merecedor da graça, resultando em repreensão ou o desligamento da comunidade religiosa. Também, nunca vamos ver uma religião admitir que outra pode estar certa também, pois isso daria margem para que seus seguidores pudessem escolher entre uma ou outra. A doutrina sempre vai pregar que essa é a única religião correta e que não há salvação em nenhuma outra, e isso acaba criando um preconceito, uma ideia de superioridade que muitas vezes culmina em intolerância religiosa. Por mais que não se veja aqui em nosso país pessoas matando por causa de diferenças religiosas, existem situações que causam grande constrangimento e são motivadas pela intolerância a diferenças, de orientação sexual,por exemplo, como o caso da "cura" de homossexuais, proposta por uma igreja. Ora, porque nunca vi igreja curar calvície, nanismo ou gigantismo, e outras características físicas que se apresentam de nascença. Talvez porque essas características não entrem em conflito com a doutrina religiosa dessas instituições. Sendo radical, vejo aí uma semelhança com a teoria da "raça superior", pregada por Hitler durante o regime nazista e que não admitia diferenças raciais, promovendo uma limpeza étnica que resultou no maior genocídio já visto pela humanidade. Parece um tanto presunçoso dizer quem está certo ou errado em suas crenças ou quem vai ou não vai pro céu. 
A religião é, em sua essência, algo muito bom para o ser humano, pois dela derivou a ética, a noção de moral e convívio em sociedade e também é ela que procura dar sentido à vida. Sem ela seria difícil um indivíduo que "não tem nada a perder" não sair por aí fazendo um monte de besteiras. A religião nos coloca mais próximos de Deus e dos nossos semelhantes, mas não devemos achar que só quem é da mesma religião é merecedor de nosso respeito, e também devemos respeitar a escolha de cada um, mesmo sem concordar, pois não temos o direito de julgar. Não sabemos quase nada sobre Deus, exceto oque outros humanos falaram, e cada um fala de suas experiências próprias, sua convicção de estar no caminho certo, sem se dar conta que pode ser um cego guiando outro cego. E, como disse Antoine de Saint-Exupérie, no livro O Pequeno Príncipe: "Somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos."
A Cruz e o Crescente: "Nao aposte em religião, através da religiao eu vi os mais variados fanatismos
serem chamados de a vontade de Deus. A santidade esta na ação justa e na coragem de proteger aqueles que não podem defender a si mesmos, e a bondade. O que Deus deseja esta aqui (na cabeça) e aqui (no coração) e através do que você fazer a cada dia, você sera um bom homem ou não" (filme Cruzada)

quarta-feira, 7 de março de 2012

Dia de Guidão

Hoje precisei ir até o centro de Curitiba resolver alguns assuntos, então decidi ir de moto, pois eram vários lugares e de ônibus ficaria complicado. Saí de casa pouco antes das nove da manhã e peguei a Av. das Torres, que depois vira Com. Franco; até o viaduto da linha verde foi tranquilo, mas logo depois já havia grande quantidade de carros no semáforo seguinte. Para quem está de moto não é problema, é só pegar o corredor e sair na frente, mas de carro isso significa alguns minutos a mais, pois são uns dois ou três ciclos para conseguir passar. Com a trincheira da R. Guabirotuba é para melhorar, mas logo em seguida há o Viaduto do Colorado, outro gargalo que até de moto é complicado; os carros ficam bem juntos, estreitando o corredor e há muitos ônibus. Passo ao lado de um "carrão", o "tiozinho" ouvindo música, com o braço pra fora, não sabe o perigo que é, tanto de um motoqueiro louco bater nele, como de um trombadinha levar seu Rolex (ou coisa parecida).  Assim nem blindado adianta, né tio?
Trânsito na Com. Franco (Av. das Torres) - foto: Linel Filho
Primeira parada, Rodoferroviária; sempre tem vaga pra motos, já para os carros...Resolvo rápido e vou para a  Mal. Deodoro; aqui o bicho pega, com as vagas de motos todas lotadas. Quando acha um espacinho, tem que pagar a caixinha dos guardadores. Até parece que quem usa moto pode ficar dando gorjeta; já ando de moto pra economizar! Vou para as transversais, também não tem vaga. Na André de Barros tá mais tranquilo, mas aí são três quadras de distância para onde eu quero ir. Não que eu me importe de caminhar, até tô precisando,  mas fico imaginando no ponto em que chegamos; a moto, que é um veículo para agilizar os deslocamentos, já sofre com a saturação do nosso trânsito, pois não tem onde estacionar. Se for pra fazer a coisa certa; não utilizar vagas de motofrete (que ficam vazias o dia todo) e não parar onde não deve, o motoboy não cadastrado acaba perdendo várias corridas; deve ser uma forma de forçar uma procura pela legalização do serviço, apesar das exigências um pouco custosas. Vejo o pessoal com as cargueiras, transportando água e outras coisas; todos moleques novinhos, encarando o trânsito selvagem de peito aberto, a lei ainda não os enxergou; quando um for parar debaixo de um biarticulado, daí vão tomar providências. Outros que não sofrem as restrições do CTB, são os entregadores de bebidas, com suas carretinhas elétricas. Ôpa, se é elétrica, não é propulsão humana, então não poderia transitar e estacionar sobre o passeio, mas também não oferece risco, apesar de atrapalhar um pouco. Na volta, sigo pela  Mal. Floriano Peixoto, pensando que no lugar das vagas de estacionamento ao lado da canaleta, poderia haver uma ciclofaixa, com 1,5m de largura, separada por uma barreira física que impedisse os automóveis de invadi-la; talvez os ciclistas parassem de usar a canaleta. Onde colocaria o estacionamento? No lado direito, ou nas transversais, ou sei lá, isso não é problema da prefeitura, é problema de quem insiste em deixar um bem particular ocupando um espaço público (também tenho carro).
Chego em casa pelas onze horas e fico pensando como sou privilegiado por trabalhar em um horário que não seja o de pico. Só o fato de não enfrentar esse estresse diário do transito já melhora muito a qualidade de vida, e gostaria de poder usar mais a bike  nos meus deslocamentos, pois ela diminui as preocupações com multas, estacionamento, custos de manutenção...mas ainda não temos uma rede de ciclovias que permita grandes deslocamentos e nossa legislação não facilita a vida de quem pretende adquirir uma bicicleta elétrica, que é enquadrada como ciclomotor, tendo que ser conduzida por pessoa habilitada, usando capacete motociclístico (!) e seguindo todas as regras de circulação do CTB; sem falar no preço delas, próximo de uma moto 0km. Acredito que ainda surgirá um político peitudo, que dará um basta nisso e fará uma revolução no trânsito e nas nossas vidas, tirando a preferencial dos carros e dando às bikes, até porque isso ajudará na sua carreira política, mesmo havendo chiadeira dos carrólatras no início. Mas depois todos saem ganhando, até quem não larga o osso, digo, volante.