quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Carrólatras e a bicicletocracia

"Brasileiro é apaixonado por carros", assim dizia um comercial, que exprime bem o sentimento que temos por nossos veículos motorizados particulares. Todo jovem que completou ou está próximo de completar 18 anos, sonha em comprar um carro ou uma moto, para se livrar da dependência do ônibus ou carona, mas seu primeiro meio de transporte particular geralmente é uma bicicleta. Se aprendemos a se locomover num meio de transporte de tração humana, por que, então, é tão importante adquirir um que seja motorizado? Vou tentar responder isso com meu próprio exemplo:
Quando era adolescente, tinha uma moto que servia para fazer trilhas, mas não poderia ser usada em vias urbanas, então, o deslocamento dentro da cidade era feito de bicicleta. Não só utilizava a bike para ir ao trabalho, como de maneira recreativa nos finais de semana e como complemento do treinamento durante a semana. A bike era "pau-pra-toda-obra", pois me ajudava a manter o condicionamento físico, servia para ir assistir as corridas de moto nas cidades vizinhas e para o trabalho. A moto era a "diversão". Até conhecer aquela que seria minha esposa. No início do namoro e primeiros meses de casado, a bike continuou a me acompanhar, no caminho do trabalho, mas a moto passou a ter uma importância maior, pois nos finais de semana era ela que nos levava para passeios e viagens, devidamente legalizada, claro. Quando veio a nossa filha, aí entrou em cena o carro, pois éramos três e moto não dava mais. Aí que comecei a abandonar a bike, pois o carro nos cativa com a segurança e conforto que proporciona, principalmente em dias de chuva e frio. Me desfiz de minhas bicicletas (tinha três) e passei a utilizar o carro para ir trabalhar. Rádio, ar-quente, um certo status, tudo isso superava o problema de gastos com combustível e manutenção e a dificuldade de estacionamento. Mas bastou a primeira dificuldade financeira para eu lembrar da boa e barata bicicleta. Atualmente, utilizo o ônibus e a moto de maneira alternada para ir ao trabalho, o carro só para sair com a família no finais de semana e a bike para lazer. Gostaria de usar mais a bike, pois minha saúde agradeceria e minha condição física melhoraria muito, mas como a distância da minha casa para o trabalho é maior e as condições da via não oferecem segurança, no momento fico só na esperança que um dia isso se torne possível.
Da esq. para a direita: Sérgio "Bolachário", Walter "Bactéria",
  Diofray  "Jaspionês" e  Adilson "Tuiuiú"; na Colônia Imperial
Santa Maria do Novo Tirol da Boca da Serra, em Piraquara, PR
Observando minha própria história, penso que com muitos países aconteceu o mesmo. Eles se motorizaram para acompanhar o progresso e os anos de "vacas gordas"; entraram em recessão, e tiveram que buscar meios alternativos de transporte. No Brasil não vai ser diferente, pois vivemos um período no qual as pessoas estão percebendo que não dá mais para continuar simplesmente colocando carros nas ruas; tem que se buscar maneiras de transporte individual ou coletivo que desafogue o transito e, de quebra, preserve a natureza. Se fosse só a questão ambiental, seria fácil: era só renovar a frota com veículos menos poluidores; mas temos a questão da mobilidade, cada vez pior nos centros urbanos. Nossos governantes podem promover essa revolução, e não precisa restringir a venda de automóveis, mas restringir a sua utilização e em troca oferecer opções que satisfaçam a necessidade de transporte das pessoas. Claro que isso não agradará a todos e surgirão focos de resistência, mas é necessário e todos ganharemos com isso. Assim como os fumantes estão percebendo os benefícios de uma vida sem cigarro, os carrólatras podem se livrar do vício de usar o carro todos os dias e passar a fazer parte de uma sociedade na qual a bicicletocracia aproxima as pessoas. No próximo post, pretendo discutir idéias que possibilitariam isso. Até lá.

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